sábado, 14 de setembro de 2013

Porque eles dirão qualquer coisa



Eles dirão que foi suicídio.  Eles tentarão confortar minha mãe dizendo isso. E de repente eu terei me tornado uma boa filha, uma boa amiga, e até talvez digam que eu era uma boa poetisa.  Meu ex-namorado dirá que não tem culpa. Algumas pessoas tentarão também abster-se de qualquer relação comigo. Espero que vocês não.
Eles dirão que foi suicídio, que usei lâminas ou simplesmente tomei remédio demais.

Mas eu parecia tão sã.
Eles dirão que eu fui ingrata. Que não honrei a promessa com meus pais, que eu devia retribuí-los a vida e educação que me deram.  E por último,  por ultimo dirão que vou para o inferno.  Que eu cometi o pior pecado...haverão muitos promotores justiceiros para me acusar.  Nenhum para me salvar... Não houve nunca nenhum.
Eles dirão que foi suicídio.  Apontarão o agente causador.  E dirão coisas sobre mim. Sobre meu corpo. Dirão jaz suicida. Jaz.

Mas você não acreditará neles não é? Esses não aguentaram o peso da própria culpa.
Eles dirão que foi suicídio porque serei não mais que um corpo.
Indigente. Sem nome. Sozinha.

Foi duro suportar a vida roendo-me as entranhas. Foi cruel suportar as  noites vazias. A dor na alma que me dilacerou dia após dia. A dor. Eterna companheira ao fim feriu-me de morte. Foi doloroso esperar pela coragem.  Mudar ou se entregar.
Eles dirão que foi suicídio.  Mas isto na verdade foi um entrega.
Um último pedido me resta: guardem com carinho todas as minhas palavras.
Porque eles dirão qualquer coisa...

Um comentário:

  1. "Eles me mordem!
    Meus próprios dentes me mordem!
    Meu sorriso sanguinário faz eclodir a loucura da minha alma!
    Meu denso salivar regado por minhas lagrimas de desespero aceitação, lubrificam o nascer do monstro que mantive adormecido nos lugares mais obscuros do meu intimo!
    A luz dos meus olhos, que por tempos transcendia as trevas do meu olhar, é estrangulada pelo ultimo sopro de consciência da minha sanidade!
    Como espinhos brotando nas pétalas da rosa, meus pecados rasgam as virtudes da minha carne!
    O fel do meu remorso me afoga!
    O amargo que escorre na minha garganta silencia meus gritos de socorro!
    A lâmina do ceifeiro cintila nas sombras do meu pesadelo!
    Eu não estou morrendo...
    Eu acabo de renascer!
    E nesta nova vida, não mais serei uma erva venenosa...
    Serei a partir de hoje a rosa mais delicada nos jardins do mundo!
    Ei de proteger-me com meus espinhos, mas à todos os beija-flores eu serei um convite para beijos de amor!
    Que a vida que suguei substitua a vida que sempre reneguei.
    Que eu não seja apenas a mim mesmo, que eu seja o que seremos, ele e eu!
    Tenho em mim um beija-flor, meu beija-flor...
    Que o mundo seja o meu jardim"


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