sexta-feira, 29 de março de 2013

E ele que tinha tudo se foi



Atirou-se do nono andar. Nono andar. Quando eu penso nessa altura, meu coração acelera. Particularmente eu gosto de altura, gosto de ver o mundo pequenininho abaixo dos meus pés. Mas é uma altura e tanto.
Ouvimos o ruído da sirene da ambulância algum tempo depois e das viaturas policiais. E depois de saber o que houve, me aventurei nessa prosa.
Alguns se entreolham e dizem: “não é possível, era tão jovem.” Outros sussurram para que os familiares não os ouçam: “tinha tudo, não dá pra entender.”
A senhora de vestido e sacola de verduras no carrinho leva a mão à boca. Mas 13 anos?!
Sim. 13 anos. Não mais. Não menos. Vertigem.
E eles dizem “não entendo”.
E eu murmuro no meu silêncio aterrador. Eu entendo. Entendo esse ter tudo e não ter nada. Não porque eu tenha tudo, sim porque não tenho nada. Essa dor que se não fosse a poesia já teria me consumido. É a metafísica da nossa alma.
Ninguém compreende a não ser que tenha um rasgo enorme na alma. Como nós o temos.
Eu entendo porque estou sempre na divisa da fraqueza e da força. Da insistência. Do desistir.
E eu vou te dizer: “Você não compreende a dor de uma alma solitária até que você conheça essa solidão”. Não, não somos doentes. Vez por outra nós sorrimos, gargalhamos, mas com aquela mão presa à nossa garganta. Nós só nascemos com um corte, uma rasgo, uma depressão abissal na alma, e é eterno. Alguns de nós vivem de subterfúgios.
Uns encaram o paredão da morte!
Vista-se com a sua postura, não julgue a vida que se abandona. Não pergunte a Deus, e também não o culpe.
Talvez um pouco mais Dele tivesse feito a diferença.
Mas foi ele que me desenhou, barro do barro. Ele que me soprou no corpo uma alma ferida.
Como se vive uma vida com a alma ferida?!
Ele se jogou do nono andar. Não suportou a ferida.

Um pouco de tudo



 

 Eu tenho de tudo um pouco.
Um pouco do vento que os olhos não veem.
Um pouco da lua que às vezes não aparece.
Um pouco das estrelas que brilham demais.
Distante do possível.
Um pouco do sol que chamusca ao tocar,
Eu tenho um pouco de tudo.
Um pouco de luto pelas ideias que sepulto.
Um pouco da tristeza e da alegria que convivem.
Um pouco do tempo que cura.
Um pouco do sonho que emabala,
Um pouco da realidade
Só não tenho nada do amor,
Esse passou e não deixou nada.





Confissões




Deixo que morra preso na garganta
A confissão do amor
Em outros tempos eu diria
Até em versos de poesia
Mas hoje não.

Sufoco a emoção para que morra lentamente.
O coração descompassado.
Vai se acalmando, chás e chás.
E tudo se estabiliza.

O amor se cura.
O amor tem cura.
Por vezes é a própria cura,

As mãos trêmulas,  pressiono
A unha na palma da mão.
A dor anula o nervosismo
Passa o ciúme.

Vou te esquecendo..
Amainando, relaxando.
Te escrevendo.
E quando vi,
Se aquietou.

Ficou lembranças.
Sentimentos, saudades e paixões
Nunca, nunca confessadas.

domingo, 24 de março de 2013

Abra os olhos



Abra os olhos.
A luz do mundo pode cegar os olhos.
Ainda assim os abra.
Se você não ver o que mundo traz para você,
Terá de acreditar no que os outros lhe disser.

Abra os braços e abrace.
Se não abraçar terá de se contentar com a imaginação.
E criação por criação...
E tentativa e erros,
Não é bom também tentar?!

Se lá na esquina, um  palhacinho e um mímico estiverem dando um show.
Assista-os. Eis um palhaço para a vida.
E um outro cheio de expressões e sem nenhuma palavra pronunciada.
Prenderão e impactarão o seu viver.

Eu sei que é difícil abrir os olhos,
Neste mundo hipócrita e fingido.
Encarar a realidade é cruel.
Você não sairá inteiro.

Ainda assim...
Arrisque tudo todos os dias.
Mesmo que seja para ver uma flor.
Assim não terás arrependimentos na vida.

Polegar opositor



Eu sei que não devia ser assim
Com esse jeito anormal
Sem saber o que é bem e o que é mal
Sabendo que isso não é natural
Sabendo que o mundo é tão bonito para se viver,
Quando meu coração em prantos só pensa em parar de bater.
Eu sei que é insanidade
Sair pela cidade,
Madrugada a dentro,
Com os sentidos sedentos.
Sabendo que vou sufocar.
Sem curar o vazio da alma.
Desisto de uma vez.
Apesar dos otimistas contarem até três
E acharem que a vida é bonita.
Não é.
Esse maldito céu nublado.
A tantos metros de distância.
Chora sua infância
Chora na minha face!
Ah se o meu mundo acabasse!
Confabulação.
Deixam tudo em minhas mãos.
As chaves dessa prisão, achando que vou me libertar.
Passou a época,
A coragem.
A vontade.
Retrocedi a época anterior aos primatas.
Não consigo segurar as chaves.
Oh otimistas mesmo no pavor.
Olhem  só. Eu não tenho polegar opositor!