terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O vento espalha







Não se mova,
Deixa que o vento espalha sua dor.
Deixa que o tempo apaga,
Toda essa história de amor.

Não se mova,
Deixa que a chuva lava,
Deixa que a chuva leva,
Todo resquício de dor.

Não acorde agora.
Deixa vir o pesadelo.
Fugir dele para quê?
Quando dormir novamente ele vai aparecer.

Não grite.
Grito é para os desesperados,
Deixa que o vento espalhe
Esse silêncio doloroso.

Não vá para longe,
Não para tão longe,
Que o traiçoeiro é o tempo,
Se longe demais for,
O vento te espalhará do meu pensamento.

E como aos outros,
Eu também te esquecerei.
E deixarei,
Que o vento te espalhe.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Sobre o Mar



O mundo podia ser todo Mar.
Com águas tranquilas,
Às vezes revoltas,
Erguendo gigantes
Ondas de Mar.
Porque ondas de Mar são únicas,
São como espelhos que refletem as cores do céu,
Paredes de cristais
Que se movem, e se movem.
E nesse aspecto os surfistas são os alpinistas
Desbravadores desses cristais.

O mundo podia ser todo Mar,
Com seus próprios palhaços alegres,
Com seus corais atrativos,
Com seus inquilinos matreiros.
Um circo de cores...
Mas sem domadores.

O mundo podia ser todo mar.
Com excursão para Atlântida,
Com permissão de Poseidon,
E também de Iemanjá.

E como Dorival Caymmi eu diria também,
Seria doce morrer no mar...
Vez ou outra vir beijar a areia.
E quem sabe Poseidon me concedesse
Em outra vida nascer como uma sereia.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Moça triste

Vejam-na chegando,
Os olhos sem vida,
O rosto cansado,
Ninguém ao seu lado,
Ela sorriu.
Tão distraída.
Meio desiludida,
Cumprimentou-nos.

Sentou-se na praça,
Final de tarde era.
Um livro nas mãos.
Olhava o horizonte
E o nada com muito interesse.

Conta a lenda
As boas e más línguas
Que aquela já foi poetisa.
Tinha um gosto na vida.
Tinha amor no coração.

Agora veja os retalhos,
Costurados do peito...
Assim de qualquer jeito.
Piedade, tenhamos.

Cuidado, ela nos olha
Meu deus que terror
Há naquele olhar.
Dá medo, dá pena,
Capaz de fazer qualquer flor murchar...

Verdade, sigamos seguindo com os olhos
Aquele ser difuso que parece fantasma.
Vaga e só vaga por entre a gente,
Suspirando, chorando. Meu Deus que dor.

E vejam o rastro de sangue que deixas para trás,
É verdade entendamos... ela brilha na escuridão.
Prova viva de que levaram...
Um pedaço de seu coração.

Adeus poetisa, que viva e viva
Em versos do além...
Covarde somos nós...
Leve a nossa dor também.

Ela nos olha, compadecida  e resoluta.
Com o riso aceita a dor
que oferecemos...
E apenas nos diz num sussurro
Para que nós não lutemos contra o amor.

Adeus, adeus poetisa.
Adeus, adeus moça triste...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Pseudo Poeta



Eu sou de bem,
Não traio, não firo,
Não machuco,
Não minto...
Às vezes eu tomo absinto,
Mas mentir eu não minto.
Não bato, não grito,
Eu choro, não mostro,
Mas às vezes eu segredo à lua,
Minhas lágrimas prateadas.
Eu vou e volto na minha estrada,
Oscilo feito gangorra...
A indecência é segredo.
Eu tenho asco de pessoas vulgares.
Não sou um ponto final,
Já disse que a nada faço mal.
Também não sou uma vírgula,
Nem interrogação, nem exclamação.
Eu sou reticências.
E me dizem que quem de dentro de si não sai
Não conhece o amor.
Eu rebato.
Não precisei sair, o amor bateu a minha porta.
Não abri, e mesmo assim me segredou as lamúrias de seu existir.
Não precisei amar para saber o amor.
E os outros incrédulos me atiram pedras.
Moçada, eu já disse a nada faço mal.
Eu sou simplesmente pseudo poeta. 

domingo, 20 de janeiro de 2013

Casa Vazia



Desculpe-me,
Eu andei desesperada,
Pela madrugada,
Sem saber de nada
Nem onde eu fui
Nem porque hoje cheguei.

Pensei ontem à noite
Ter saído de casa,
A face retalhada
Pelo demônio da dor.

Ouvi me chamarem,
Murmurarem meu nome com doçura extrema
Brilhando no horizonte
Uma luz me chamava.

Pensei caminhar até ela,
Um caminho repleto de cores,
Que me cegavam os olhos,
E deixei-me guiar pelos sentimentos.

Desculpe-me por retornar só agora,
Estou envergonhada,
Sem vestes que me cubra, sem justificativa.
Sem respaldo, sem desculpas...

Desculpe-me por retornar agora.
Os sentimentos me levaram para uma jornada,
Hoje acordei cansada,
A pele desfigurada.
Também não me reconheci.

E sem pulsação.
Toquei em meu peito, havia cicatriz.
Maldito infeliz
Sejas pela vida...
Aquele que levou meu coração
E como castigo me deixou viva.



(PS. Créditos do título ao colega Júnior Júnior...)

A quase morte da Mulher Morena




(Para melhor compreensão recomendo leitura do poema  "A volta da Mulher Morena" Vinicius de Moraes)

Minha mãe traga-me papéis sem linhas,
Canetas pretas e azuis - de preferência as azuis.
Deixe-me sozinha.
Apenas ligue a luz.

A confissão que tenho a fazer é breve.
Minha irmã saia do quarto, por favor.
Não posso confessar em tua presença.
É a confissão de um quase crime cometido em nome do amor.

Pois bem, vou começar.
É uma confissão amiúde,
Cheia de tristeza e ciúme.
E ciúme, e ciúme.

Eis que ela se anunciou na esquina,
Eu sabia ser ela. A descrição era idêntica.
Era uma menina...
Era uma mulher efêmera.

Eu sabia que eram aqueles olhos
Que ao meu poeta despertava durante a noite, como estrelas.
Eu sabia que eram aqueles lábios
Que eram o néctar da vida e ele desejava sorvê-la.

Observei-a seguir pela rua, braço estendido ao longo do corpo.
Eu sabia que eram aqueles braços lassos,
Que  paralisavam o meu poeta na prisão silenciosa
De um carinho.

Era ela a mulher morena que seguia na rua,
Que trouxe tosse má para o seu peito e solidão
Que encurvou  seus ombros,
Ela que possui o teu coração.

E quis atender teu último pedido.
Eu quis dar morte cruel à mulher morena.
Confesso, confesso, quase crime cometido.
Mas não podia Vinicius matar, assim tão cruelmente,
A musa do teu poema.

E assim me acovardei a insignificância
De um quase crime cometido e, por favor,
Perdoe-me não pude seguir com essa vingança
De matar aquela que te matou de amor.