domingo, 20 de janeiro de 2013

A quase morte da Mulher Morena




(Para melhor compreensão recomendo leitura do poema  "A volta da Mulher Morena" Vinicius de Moraes)

Minha mãe traga-me papéis sem linhas,
Canetas pretas e azuis - de preferência as azuis.
Deixe-me sozinha.
Apenas ligue a luz.

A confissão que tenho a fazer é breve.
Minha irmã saia do quarto, por favor.
Não posso confessar em tua presença.
É a confissão de um quase crime cometido em nome do amor.

Pois bem, vou começar.
É uma confissão amiúde,
Cheia de tristeza e ciúme.
E ciúme, e ciúme.

Eis que ela se anunciou na esquina,
Eu sabia ser ela. A descrição era idêntica.
Era uma menina...
Era uma mulher efêmera.

Eu sabia que eram aqueles olhos
Que ao meu poeta despertava durante a noite, como estrelas.
Eu sabia que eram aqueles lábios
Que eram o néctar da vida e ele desejava sorvê-la.

Observei-a seguir pela rua, braço estendido ao longo do corpo.
Eu sabia que eram aqueles braços lassos,
Que  paralisavam o meu poeta na prisão silenciosa
De um carinho.

Era ela a mulher morena que seguia na rua,
Que trouxe tosse má para o seu peito e solidão
Que encurvou  seus ombros,
Ela que possui o teu coração.

E quis atender teu último pedido.
Eu quis dar morte cruel à mulher morena.
Confesso, confesso, quase crime cometido.
Mas não podia Vinicius matar, assim tão cruelmente,
A musa do teu poema.

E assim me acovardei a insignificância
De um quase crime cometido e, por favor,
Perdoe-me não pude seguir com essa vingança
De matar aquela que te matou de amor.

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