domingo, 14 de setembro de 2014

Lentamente

Deixar de me perder porque estou longe
desistir de me encontrar porque estou perto
Dos sinos da igreja
das música que ignoro
do querer sem o querer
das asas que quero pra voar.
Deixar de buscar o que já foi encontrado
Deixar de amar o que já é amado
eu gosto das primeiras impressões
dos processos
e da escuridão.
Final tão triste é..
Como machucado no pé...
Incomoda ao andar!
Mas é bom,
agonia nenhuma é bom continuar!
Deixar de me perder
deixar de me achar
me minimizar
Diminuir..
até meu bem...
até quem sabe
eu desaparecer!

Dos Sonhadores

O que os sonhadores sonhavam antes de nós?
Será que teriam virtudes melhores,
Perspectivas maiores
eu sonho e sonho
para decaptar o sonho
e velas  iluminam
e queimam, por quê?
A chama é o sonho,
e a vela é o viver,
que derrete ao aumentar das chamas
Baby, o que fazemos
se é de sonho que morremos?!

Disse o poeta: "No escuro da noite todas as rosas são negras."
Disse o pensador: "Os sonhos são ferramentas que a consciência insiste em não usar."
Disse o sonhador: "Todos os meus sonhos são no escuro."
Disse o profeta: "Orai pelos anseios do teu íntimo sob a luz de uma vela purificada."
Rosas...
Sonhos...
E velas.
Cores...
Desejos...
E trevas.
O que somos nós se não poetas que pensam nos sonhos como se fossem profecias?
O que seria de nós se não tingíssemos de poesia as rosas que se camuflam na escuridão de nossas velas apagadas em cada sonho que abandonamos?
Nós, que já nos perdemos entre a realidade e a ilusão...
Nós, que já trocamos e reviramos nossos sonhos...
Nós, que já curvamos os joelhos em preces...
Nós, que habitamos este mundo de tolos que abdicaram a fantasia e se escravizaram pelas promessas do talvez!
O que os sonhadores sonhavam antes de nós?
Será que teriam virtudes melhores,
Perspectivas maiores?
Ou eram apenas sonhadores no escuro das incertezas?
Se os sonhos são apenas instrumentos, façamos da vela o instrumento da chama que nos ilumina.
A chama é o sonho,
e a vela é o viver,
que derrete ao aumentar das chamas que consome de nós essa pobre realidade.
Eu sonho e sonho
para decaptar o sonho
enquanto as velas iluminam
e queimam, por quê? Pra quê?
Por quem?
A vela que sucumbe a chama
Não deixa de existir
Apenas se transforma
Numa rígida camada sobre os altares do que desejamos sem saber.
Assim como no escuro do não sonhar
Uma vela sem chama é invisível, nós enquanto vazios de nossa própria poesia, somos apenas orações que jamais serão atendidas... Rosas que jamais serão apreciadas.
Não importa o quão fustigante seja a realidade, nem quão distante seja a fantasia...
O mais importante que nos permitamos queimar.
Mas baby, o que fazemos
se é de sonho que morremos?
Nós morremos...
Mas morremos com o prazer de sonhar!
Permita-se ser a poesia tremulaste que revela os segredos dentro das sombras.
Deixe a chama queimar.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A gente vai...

A gente vai colidir
a lágrima e o sorriso vão se juntar
o adeus e a chegada vão se aproximar
eu vou ter coragem pra falar
Um nome qualquer.

A gente vai colidir
misturar, se unir
E chorando, gritando
não aceitando
a gente vai aceitar sorrir.

Sorrindo vou assim seguindo
as paralelas do meu/teu viver
O caos do existir
Na monotonia de todos os dias

Dias que nunca passam
No abstrato é tua pintura
auto retrato biográfico
fixado numa parede qualquer
esquecido ente um sorriso e outro.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Dos medos

Mas eu também estou cansada dos meus medos,
sempre contra mão,
sempre caindo.

Caindo, caindo e caindo
São caminhos difíceis de achar
viro meu avesso pra tentar procurar
aquilo que nem ainda ouvi falar

Mas meu avesso não conhece,
meu avesso se encolhe,
nem meu não eu
sabe como contornar..
pra que abrir as asas
se não vou poder voar?!

voar? Como se não sei das asas
Contorno meus medos
achando que não vão aparecer
medo que aliás?
sendo que meu sentimento voa
querendo se libertar,
mas não acha um jeito
devoro em agonia

Mas medo é só agonia
que vem sem avisar
devora isso é verdade
até não poder mais devorar.
Essa desgraçada agonia,
de mãos que tremem sem poder
e a gente esconde
pra que ninguém possa ver
e a gente cai, cai e cai
mas permanece firme
para ninguém perceber.

E ela vem sem avisar
Na sua imensidão
A vontade é guardar o coração na gaveta
Pra não machucar o órgão do amor
Para isentá-lo da dor
Mas quem consegue protege-lo
Não é tarefa fácil
Às vezes vem o desespero
E os sentidos logos se entristecem
Pela impotência da vez.

E por mais uma vez
impera a sensatez
a gente para de respirar
alguns segundos talvez
esconde-se do mundo
temos apenas uns minutos
pra restabelecer
Mesmo quando se continua caindo e caindo e caindo
Pra quê se erguer?


quarta-feira, 30 de julho de 2014

Sem palavras

Eu já não tenho escrito sobre as minhas dores
nem dos abismos que pulo
esperando me quebrar toda,
não quebro.

Eu não tenho escrito sobre os amores
que não tenho,
nem sobre a minha filosófica tristeza
que tudo me responde.
Ela tem me calado.

Não tenho tido vontades
Eu estou automatizada.
Há sangue nas veias?
Duvido.
Já me derramei.
Estou pálida,
Mãe manda comer,
pai nem quer saber,

e um ai
uma publicação
é que atrai atenção, nada mais.

Eu não tenho escrito
não tenho achado bonito
o que tem revolvido minhas tripas.
Tripas!
é feio não é?!
Não mais
do que o que meus olhos enxergam
quando olho,
não pra dentro de mim,
mas pra fora.


Não tenho escrito,
Minha solidão tem abraçado
forte demais...
e crack...
São meus ossos quebrando.

Lá vou eu.
Perdão
minha solidão
é possessiva demais.

domingo, 29 de junho de 2014

À Anne Sexton

Rastejou
Sozinha para aquele abismo
para aquele mundo asqueroso
Essas portas terríveis
não se abrem pra qualquer
um.
A entrada não é gratuita.
é barganha.
Você oferece as entranhas
pra poder entrar.
Rastejar
ganhar mais alguns suspiros
desses que eu admiro
viver é uma luta.
Dessas que requer
conduta,
virtude.
Ninguém rasteja
por rastejar.
Como criminosa
Rastejou.
Para a escuridão
por trás da retina,
menina
a morte que tanto desejei
chegou pra você
e não chega pra mim.

sábado, 28 de junho de 2014

Sou tão dela...



Eu e minha solidão
Fomos feitas uma para a outra
Completamo-nos
Sabemos a letra de cor
Da nossa canção.

Eu e minha solidão
Amante atenciosa
Trata-me como uma rosa
E envolve meu coração.

Vem comigo
E eu vou com ela
Amanhecendo ou
Anoitecendo.
Chega e me agasalha
Abraço forte
Possessivo.

Escapar já não
Consigo.
É intenso
É pra sempre
É cegueira
Besteira.

Eu e minha solidão
Duas estranhas
Que se conhecem
Se possuem
Eu sou dela...
Completamente dela..
Minha solidão.

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Não voltamos
Não voltamos porque voltar não podemos
Pudéssemos estaríamos lá
no início da estrada
ceifando lágrimas
antes de serem derramadas

Pudéssemos voltar
estávamos andando de costas
por todas as estradas.
Amigo, homens e mulheres
correndo contra o tempo
quebrando horas
atrasando ponteiros
Todo mundo evitaria um
erro antes de ser cometido.

Pudéssemos voltar meu bem,
Estávamos vivendo o apocalipse
desenterrando mortos,
andando na chuva
e esse discurso "Para frente é que se anda"
Bobagem

Se pudéssemos voltar
Sem demagogia
Sem filosofia
Só com seu coração
Diz pra mim baby,
Se pudesse voltar no passado
Você não voltaria?!

domingo, 15 de junho de 2014

Não abra

Caixas e caixas e mais caixas
repletas de coisas.
Negrume, cinzas, fumaças
restos mortos de coisas vivas
Restos vivos de coisas mortas,
Atrocidades de um corpo
penitência de uma alma.
Preso em caixas!

Caixas,
qualquer lugar de onde não se pode sair é uma prisão
Caixas,
fechadas,
lacradas.
Como meu corpo,

Meu corpo era uma caixa
na minha boca uma mordaça,
um aviso escrito com sangue:

"Más lembranças,
péssima vida,
ausência de coração"
Não abra por favor.

terça-feira, 27 de maio de 2014

Voo

Aquilo que podia assustar
pessoas,
aquilo de andar de pés descalços por todo o chão
de vestir quase nada,
de olhar para o nada
e pensar em quase tudo
de atrair a escuridão.

Aquilo do qual todo mundo corre
tesouros que trazem criaturas
criaturas que se aproximam
olhos que não podem ver.

história que explícita nunca será contada
escuridão da alma,
riso de um por-do-sol na calçada.
Sem muita proximidade.
Olhar a lua,
as nuvens sendo levadas pelo vento
não, o céu não está se movendo.

Aquilo de cristalizar na luz do sol
de segurar as criaturas nas mãos
alimentá-las com pedaços de si
Aquilo...

Um pássaro se tornou vários.
Eu tinha muitos pássaros nas mãos...
E quando todos eles voavam...
aquele abrir de asas
aquele alcançar o céu,
aquele debruçar sobre a janela
aquele tentar alcançar e não poder...

aquele sorrir embevecido,
eu sempre amarei o
Voo.
Dos meus pássaros.

Chamado

As paredes de vidro se ergueram mais alto.
Os dias se perderam nas noites intensas
ou foram as noites que se perderam nos dias.
E as paredes de vidro não param de se erguer.

Eu me apoio numa delas, arrasto os dedos no vidro. Sopro. Desenho.
Vejo meu reflexo.
encosto o rosto
lá fica a marca da minha lágrima.

Meu reflexo rir de mim.
Ri e é assombroso.
Eles contam essas historias
sobre almas que se perdem de seus proprios corpos.
E nunca poderam voltar...

Sem esperança eu vejo os dias passarem.
A contagem se cumpre.
E eu vejo fios dos meus cabelos sendo levados
pelo vento.
Onde irão?

Eles nunca dizem
que vamos nos perder...
eles nunca dizem que o caminho que seguimos
é direto para a solidão.

Daquelas paredes de vidro
Por dias eu tenho chamado...
Chamado e chamado...
por você.

Por dias e por dias
eu te concedi o último fio de esperança,
naqueles fios de cabelo que o vento levava
Por dias chamando você...

As paredes de vidros
se transformaram em espelhos
refletindo seu próprio mundo.
E o meu ficou oculto.

Por dias e dias chamando...
perdida e ferida o bastante para morrer,
E quando a luz raiou
e dispersou minha escuridão,
Todos os espelhos quebraram
todos os portões se abriram
e eu desapareci.

domingo, 11 de maio de 2014

Nenhum pedaço de esperança

Esperei
por um pedaço de esperança.
Desde a noite anterior
ao raiar do dia.
Não havia esperança.

Servi café frio. Mantive a calma,
Olhei ao meu redor.
A solidão dos dias triste continua ali
me esperando.
Nada de esperança.

Ele tocava violão com os cabelos despenteados
Eu chorei por uma semana inteira.
Esperando, por um pedaço de esperança
Que deveria ter caído do céu.

Olhei as pessoas com seus celulares.
As que se empurravam,
as que se amavam e brigavam -
Aquele cara que foi meu e sua guria.

Tudo numa harmonia.
Mas eu estava esperando pela minha suposta esperança.
Sentada, olhando pros lados. Abotoando os botões da minha camisa.
Imaginando os carros correndo pela estrada.
Freando, batendo-se...
e seguindo, sua própria fé.

Eu fiquei esperando, a esperança
O coração batendo,
batendo... devagar,
Até que finalmente parou..
Nenhum pedaço de esperança.

No silêncio de um existir

Olá, Olá
o vazio não responde.
Bato na porta.
Ninguém abrirá.
Não estou do lado de fora
pedindo pra entrar
eu estou do lado de dentro
pedindo pra sair.

A minha voz se reproduz em eco,
meu som é desregular
Meu mundo é lunar
Já, já vai trovejar
e estrelas vão cair.

Olá, Olá...
A voz de dentro pede pra escapar
a voz de fora amordaça...
e a gente fica aqui
presa nessa caixa de vidro.
No silêncio de um existir.

sábado, 3 de maio de 2014

Essas histórias dos meus sentidos

Com saudade te escrevo cada palavra
que é ferida com a tinta da caneta
Caminho, meio, a forma
a lembrança que ainda
vive em mim
tem teu rosto, tem tua cara,
coisa rara
que vivi...
que vivo.

Com saudade presente
te sinto
doçura do meus lábios
asas das minhas costas
auréola do meu coração
Tu fostes a minha outra metade
parte da minha
vida
Todo o meu coração.

Fizestes mistérios dos dias
orvalhando o meu olhar
passou, passou tanto tempo
até poder sussurrar teu nome.
E depois poder degustar.
O que me fazia dizer
em silêncio e sem parar
de novo teu nome
teu nome.

Com nostalgia aqui
entre mim e você, recordo,
Doçura beleza,
eu podia ter certeza
de alguma coisa
qualquer coisa
certo aspecto de de ternura
criatura minha
e eu criatura tua.

Fomos esses espaços
que se preenchem
que se completam
você minhas asas de voo
e eu sua pista de pouso.

E era terno, perfeito demais
para se dizer
para se reter
em palavras
sentir por si só era inacreditável,
Afastar, Jamais.
Sempre perto, sempre perto demais
e ainda assim era pouco.

E você era bom demais para existir
era bom demais
para ser para mim.

Então se me lembro bem...
se bem me lembro
naquela chuva,
chuvisco de nada
que grudaram meus cabelos na cara
e eu deixei o guarda chuva cair
e vi que você podia ir
sem mim.
Algo estalou, acordou liberto,
içou minhas asas
e voou.

Talvez eu não entendesse
que a chuva me mostrou
até que você retornou
me abraçou e beijou
e beijou e beijou

Relembro com saudade
mas não com vontade,
porque movo a cabeça pro lado
e você está aqui,
Largo a caneta.

Te olho nos olhos,
Talvez dentro da alma
você faz sua morada
aqui dentro de mim
E é essa atmosfera
que confirma a história
que um dia vivemos
e continuamos vivendo
eu e você.

Perto demais

Foram aqueles olhos
labirintos mentirosos
retinas de dimensões
tristezas e solidão.
o mundo é uma deliciosa mentira
e todo mundo gosta de uma
boa mentira.

Gosta de boas mentiras ao acordar
Deliciosas mentiras sobre o porque
foram aqueles olhos
trises histórias incompletas
Sem rumo, sem direção.

Mas  vez ou outra
São esses olhos
quase se perdem no abismo
ou quase  se encontram na luz
e então há um pouco de paz.
São esses olhos os meus...
São esses olhos os teus...

Em algum momento,
São nossos olhos.
Perto demais.

domingo, 27 de abril de 2014

Convertido em um corvo

Abri o peito.
às vezes o dia fica assim bonito,
céu azul
sol quente.
às vezes penso que meu pássaro tem de
ser livre.
Não um simples prisioneiro em mim.
Meu corpo é sua limitação,
uma prisão macia,
ainda assim uma prisão.

Então o deixei sair.
provar da liberdade rotineira
do espaço pra voar que pode ser grande demais.
Ele andou um pouquinho,
abriu as asinhas
e voou.

Eram cinco da manhã quando ele retornou,
eu deitada de bruços e ele
abriu um buraco nas minhas costas e
entrou.
Mas já não era um pássaro comum
havia se convertido num corvo.
Pobre do meu passarinho,
tornou-se também um devorador.

Cadeados de amor



Foram os cadeados.
Foram as chaves jogadas nos rios.
foi o clique, 
do cadeado se fechando,
se prendendo a um pedaço
de ferro numa ponte qualquer.
Foi o sonho e a promessa que eles fizeram a si mesmos
pra sempre,
pra sempre sussurravam entre si,
queriam-se!
Prometeram-se.
Comprometeram-se,
pertenceram-se.
Esqueceram- se de si mesmo.
eram dois seres em um, 
sem individualidade,
sem querer próprio,
cansativo.
Eram cadeados presos na ponte.
Duradouro,
mas presos.
ali inertes.
e quando a chuva caia...
e a água em contato com o cadeado,
a ferrugem
estragando.
Mas ninguém podia sair.
Estavam presos.
Por que as pessoas esquecem,
senhor
que o verdadeiro amor
é compartilhar a liberdade.
Sem cadeados, por favor!

sábado, 26 de abril de 2014

Aos 45 minutos

Siga em frente.
A lógica é acreditar que você não está sozinho,
sempre leve com você
papéis e canetas.
Quando o medo apertar escreva.

Siga em frente
Louco na sua própria escuridão
fome de devorar qualquer coisa
cuidado para não devorar as mãos..

Não haverá lugar suave para repousar os pés
gueixa nenhuma virá debruçar-se sobre ti
com nenhuma arte sexual...
a vida é mais banal e trivial do que isso...

Siga em frente,
nesse caminho
você ouvirá muitos murmúrios
vai olhar pra trás
não vai ver nada.
Não se assuste tanto, são seus próprios murmúrios.

Você terá tido um grande sonho,
terá deixado seu nome em algumas mentes
terá vivido como manda o manual,
ser uma grande pessoa.

E então lá pelos 45 minutos do segundo tempo
quando seus olhos encontrarem as nuvens
e o céu chorar sobre você,
vai ver que nada nisso fez sentido.

Um único sonho enquanto você podia ter tido vários
Um único
caminho enquanto você podia ter seguido tantos
Um único triste rosto cansado,
Enquanto você podia trazer algumas marcas de sorrisos.

Então sente e lamente,
é sempre tarde
pra quem tem certeza de tudo.

Sim, baby, sozinha.

Aprendi a ser só meu bem,
e não havia outro motivo
Um dia eu olhei ao redor
e não havia ninguém.

Eu aprendi a ser só baby,
foi preciso,
eu era um ouriço cheio de espinhos
eu era um diamante não lapidado, o risco era alto
de ficar perto de mim.

eu aprendi a ser só sunshine.
porque as pessoas faziam barulho demais
rasgando suas bocas
num riso que eu não compreendia
aquilo nunca me pareceu real.

Eu aprendi a ser só docinho,
sozinha
com tantas de mim
dentro de mim...

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Como o fim dos dinossauros

Fiquei olhando o céu.
Uma chuva de meteoros poderia cair.
Como aquela que dizimou os dinossauros.
Eu tenho uma melodia para esse momento.
Olhando o céu eu desabotoaria os primeiros botões da minha camisa.
Sentir algum calor...
O céu todo em chamas.
Continuaria deitada
Cabeça pra baixo
Cabelos tocando o chão
Pessoas correndo.
Gritando.
Se desesperando.
Sobrevivência.
O mundo ia passar pra mim
Em câmera lenta.
Sou a que admira a destruição.
Na minha mente nenhum filme passará.
Eu apenas observarei o terror...
Algo maior está vindo...
É o inferno?
É a falha...
Eles tentaram lutar
Sobreviver
Mas os dinossauros foram instintos
E depois que tudo queimar...
E que os restos forem apenas cinzas...
Eu andarei ainda sobre o mundo...
Porque eu já me fui há muito tempo
Quando eles ainda atendiam ao telefone
Sorrindo...

Como uma estrela


Viver eternamente nas estrelas
na imensidão que admiro
orbitar com uma beleza sutil
peculiar.
Viver eternamente.

E o céu não choverá mais sobre mim,
e eu serei a luz
quando o sol se apagar
eu continuarei a brilhar...
e viverei eternamente.

A chance, a mudança
o big bang
é no espaço o meu encaixe.
Não em braços
não em camas
não em perfeitas pinturas
nem em citações
Eu sim, viverei para sempre.

Não lembrarei dessa vida que não pedi
não levarei o que não consegui cativar
meu negativo foi grande demais....
mas é lá.
No céu,
como uma estrela
que eu viverei eternamente.

domingo, 20 de abril de 2014

O mundo vai acabar na perfeição deles

Creio que o mundo já, já vai acabar.
Eu tenho visto artificiais seres caminhando pela rua.
Seres que não olham mais pra lua.
Humanos? não sei! Mas o mundo já, já vai acabar.

Esses seres são perfeitos demais
Eles nunca sofrem...
Eles nunca apanham
Eles nunca leram o poema em linha reta.
Eles sequer leem.

Esses seres me assustam,
Refletem uma sintonia, uma harmonia
semelhante a de um deus.
Não admitem ter marcas da vida.
Porque eles são forte demais.

Eles não são mais humanos
evoluíram para um nível acima disso,
eles abandonaram a condição,
assim como eu abandonei meu coração,
mas continuei
imperfeita.
Eles alcançaram a perfeição.

Imagino então,
um dia em que esses seres
atravessem as ruas,
cegos em si mesmos
e sejam atropelados.

Eles se levantarão,
eu verei suas marcas,
eu verei suas sequelas,
mas ele dirão que não.
Nunca foram atingidos.

Não gosto dessa evolução.
Desses seres mascarados,
de suas bolhas maravilhosas...
Que todos eles explodam
e que o mundo acabe já!
Para eles.
Pra mim sempre vai continuar!
Porque eu ainda sou uma maldita humana.

Welcome to my brigde

A noite é escura,
a brisa é fria,
a luz é parca
é pouca.
a correnteza embaixo da ponte
é forte.
é a mais forte que já vi na minha vida.

Mas naquela correnteza
as águas não perdoam as pedras,
Passam por cima,
e lá embaixo, onde a água é calma
nadam e vivem os peixes.

Observe.
O céu acima é escuro.
promete chuvas
tempestades
ameaças.
Mas gente como nós
está acostumada com a chuvas.

E então eu convido,
sente-se.
então a gente senta
na borda da ponte,
e olha pra baixo
e olha pra cima.
A gente tá no meio do mundo.
Só olhando o que acontece.
sem medo e sem pressa.

Bem vindo à minha ponte.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Mas caso eu te esqueça...

Todo mundo lembrará você
todo mundo um dia ou outro
vai lembrar daquele cara.
a luz faz lembrar você
o movimento de rotação,
noite, dia, noite e dia.
Você.

Seus gostos lembrarão você.
E os rostos capturados
pelo teu olhar lembrarão e pensarão
e tentarão esquecer esses olhos
Impossível
Eles não esquecerão.

Ternamente, como quem dá um abraço,
ou amavelmente como quem admira
como quem olha um lago de aparentes
águas calmas
Quem sabe o que por debaixo há?
Todos lembrarão você.

Lanço minha moeda pro alto
aposto que alguns te esquecerão com a memória
mas te lembrarão com o coração
algumas pessoas tem dessas coisas
 os que foram cativados
por essas nuances tuas
também não te esquecerão.

O pensamento ardiloso,
como se derrubasse portões,
invadisse caminhos perdidos da tentação
e longe de tudo a ponderação,
a compreensão, a apresentação
alguns não te rebaterão,
e é por isso que não te esquecerão...

Haverá um pedaço de ti
em cada palavra
talvez em cada canção
talvez nos toques das mãos
e alguém em algum lugar
feche os olhos
morda os lábios
emita um gemido
estará pensando em você.

As senhoritas te defenderão
e dirão que já passastes por muitas coisas,
essas jamais, jamais te apagarão
mesmo que te odeiem.

Mas eu sempre te verei,
como o cara daquela canção.
Um tipo de trapezista,
balançando-se para lá e para cá
sem cair,
sem decidir descer do trapézio,
parte do circo
parte do entretenimento
e observando o tempo todo
Que hilario é o mundo
Todos acreditando que você
entretinha todo mundo,
e ao contrário.
Era o trapezista que se entretinha com o mundo.

Talvez por isso eu escreva
se minha memória se perder
nos caminhos da minha amarga loucura...
Que minhas palavras não esqueçam você.

Sem descanso

As minhas horas de sono não bastam
o meu caminho de pedra agride meus pés
E de tanta dor não quero mais caminhar.
a escuridão com a qual eu convivo
o frio que eu sinto todos os dias
a escassez de alegria,
a redoma de nostalgia.
Hemingway e se eu me juntasse a ti?

A dor me levará certamente
para onde não e nunca houve nenhum sobrevivente
como naquela música sobre o domingo sombrio.
Naquela floresta
de onde apenas os corpos que se encontram retornam.
Será que ficariam zangados comigo?

Abrigo-me nas sombras.
Meu coração e eu já não ouvimos nada
Meus dedos apagaram as luzes
meus olhos cegaram-se de vez.
meus lábios procuram oração,
meus joelhos se rasgam no chão
e minha alma não para de chorar.
Mas não deixem saber que chorei.


As minhas horas de sono não bastam,
As minhas horas de dor não me acalmam...
Tudo fica assim,
meio escuro, sombrio...
como o domingo daquela música...
Caso não me encontrem. nunca mais..
embora saibam que me fui chorando
pensem em mim nas poucas vezes
em que com vós
eu estive sorrindo.

Ninguém nunca para o Trem

Pare o trem por favor,
os cachorros estão na trilha
correndo por sobre os trilhos
divertindo-se, brincando...
eles estão felizes.
e isso aqui não vai parar.

Pare o trem por favor,
um pouquinho de piedade.
Os bichos não vão sair
Eles não reconhecem o perigo
Eles brincam e eles correm
de lá para cá...
Eles não estão com medo.

Pare o trem por favor,
a distância está sendo vencida...
Eu conheço bem essa proximidade
Por favor pare o trem.

Mas o trem, o trem não para,
Segue por sobre os trilhos,
e eu sinto a sensação desesperadora
e a lágrima correndo na minha face
e o gosto amargo na boca.

E assim como a vida.
O trem nunca para,
E quando chega ao final
Há somente restos
e muito sangue para trás.
Pobres cachorros.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Eles

Eles são tempestades em noites de lua cheia
Caminhos seduzíveis de lugares barulhentos
Mistérios entorpecentes, geradores de ideias
Curvas afrodizíacas de gestos sendentos

às vezes são como sol surgindo num dia nublado
riso e frescor da primavera
companhia, sinfonia, e juntos um grande concerto.
Sons indiziveis, imagens irreproduziveis- transformações de si mesmos. - Quimeras.

Eles sabem mais do que sabem saber
Expurgam do mundo interior o que sentem
Um fala do mundo rotineiro com sabedoria
O outro transmite metáforas, de momentos que convém.

Falam com facilidade do que os olhos viram
os sentidos sentiram,
do que a mente imaginou,
tornam-se poetas do que ainda
ninguém nesse mundo falou.

Os dois são como estrelas da madrugada
falantes silenciosos, para quem sabe os interpretrar
São personalidades de sintonias fortes e variantes
Encantam com suas sucintas maneiras de pensar

São numeros que não se completam
mas de algum modo veio se completar.
Palavras que nesse vasto universo
um universo de rascunhos veieram criar.

Eles são pedaços de caminhos tortos, à medida que decoram-se
Mares poéticos que transmitem seus universos ferventes
São canções belas, ditadas pelas suas almas
De todas as ideias recônditas que aplaude à mente.

São inteiros que se dividem em pedaços,
e por ventura pedaços distintos que se juntam e tornam-se inteiros.
O mar e a luz, num unico compor.

Eles preenchem todos os cantos vazios
De forma a ressaltar as suas eficiências
Escrevem a manifestação dos seus sentidos abstratos
E emanam a importância de suas essências.

Eles estão por aí,
histórias de si mesmo mesclados com o mundo
uma abstração concreta...
Um sentir
Se algum dia, alguém contar em versos sobre esses poetas,
Certamamente todos pararão para ouvir.

terça-feira, 8 de abril de 2014

Tal como respirar

Tava ali sentada no cantinho,
perto da porta de vidro
pressionando o dedo na dobradiça
Não havia porquê.
Puxei o caderno sobre a minha perna
trouxe a caneta
mordi a tampa.
e escrevi.
E depois pensei
Por que to fazendo isso?
Havia alguma necessidade
Na luz que queria entrar e não podia,
Escrever deve ser isso
Querer e não poder
anemia dos desejos
tontura soberba de palavras amenas
Estrelas do céu
Papel, papel, papel.
Rainha desenhada
Escrevi algumas palavras
e pensei é como respirar...
Escrever é necessário
Tal como respirar.

Seja lá porque, estou aqui.

Seja lá porque fui.
Fui pra um lugar me encontrar e não me encontrei
porque fui
e atravessei as ruas,
e esperei pacientemente o sinal vermelho
e sacrifiquei um ou dois fios do meu cabelo
E esperei
e ficou verde
e atravessei a rua.

Seja lá porque esperei a matilha passar,
e fui me juntando a ela
meio tímida, meio escondida
vergonha de mim.
planificada, com sonhos de metal.

Seja lá porque não tive fome
nem vontade de comer.
Seja lá porque errei o primeiro verso,
porque errei com o primeiro verso
e vim errando desde então.

Seja la por qual motivo
seja.
Mas eu estou aqui.

Sem asas

Desenhados feito pássaros,
desenhados com o desejo
Insano do voo
Desenhados, balanceados.
e cada tentativa de voo
quebrados ficavam
Mas quem nasce para voar
mas quem nasce para voar
Quem nasce para alcançar o céu,
quem nasce para ter liberdade
não se contenta com
a prisão que é o chão
desenhados para o voo.
para desbravar o céu.
as estrelas e o luar.
Desenhados para ver
o mundo lá de cima
e nesse desenho que deus criou
só faltou mesmo as asas.

Crueldade

Parece cruel.
mas não é cruel.
Cruel foram as bombas...
as minas, os explosivos
que espalharam por todo meu corpo
e todo meu ser.
E é isso que eu sou.
Uma bomba relógio
em contagem regressiva,
prontinha pra explodir meio mundo.

Parece cruel,
mas cruel é sentir.
cada uma dessas bombinhas
explodirem cá dentro de mim.
efeitos e tremores
que culminam no silêncio
na chuva, na tristeza e na solidão.

Parece cruel,
Julgue o quanto quiser,
mas cruel foi sentir a dor
que eu senti,
e essa mesma dor me apodreceu.
Em mim nada mais brota...
e isso é muito cruel.

Teremim

Apagado da história
Ninguém nem sabe que existiu,
Perdido entre espaços
Como criou-se nem se sabe
Há certo mistério
Há certo borrão
Melodia essa de onde veio?
Quem ouviu ressoar?
Quando ouviu?
Quem ouviu?
Era o som de um Teremim
Um Teremim
abandonado no tempo,
meio assombroso
meio mágico,
meio obscuro,
e conquistador.
Tocar sem tocar
e reproduzir
apenas com a posição das
mãos
a melodia fantasmagórica
que assusta mais retém.
E retém...
Sou eu,
Tal qual um teremim...

segunda-feira, 7 de abril de 2014

Cacos

Ouvi de novo o estilhaçar
tão comum aos meus ouvidos.
Vi os cacos se espalharem.
Tão comum aos meus olhos
Sai catando os pedaços...
como sempre acontecia ao fim.
Quebrou-se novamente minha alma...
E lá vou eu remendar...
Coloco pedacinho por pedacinho.
Mas no fim eu sei,
algum pedacinho ainda há de faltar.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Ele se inspira, eu escrevo

Ele é como um abraço
e tem cheirinho de Mucilon
e quando vem meu mundo
fica acolchoado.

Tem dias que tudo o inspira
mas ele fica ali
resistindo a escrever,
até minha rústica pintura
e me diz das minhas cores
das que escolho
e as sente
e as define
é como andar descalço.

E tem dias por outro assim,
como os de hoje
que até um codinome
que vem como beija-flor
o inspira sem boa noite
e ele fica ali resistindo a escrever...
mas poeta é assim
faz versos sem perceber

e me lê
e me diz
que meu jeito é assim
como beber água num copo
limpo.
Ah esses poetas...
que seria de mim,
sem eles?!

Moedinhas


Eu era como aquele garotinho
Que achava que com uma moeda de um real
Podia comprar o mundo
Então passou a juntar muitas moedinhas num cofrinho
Como se fosse um milionário
Para dar um mundo
Diferente pra cada um.

E então um
Dia esse garotinho
Quebrou seu cofrinho
Quando acreditava que podia
Comprar um mundo para cada pessoa que conhecia e saiu para a compra.

Quando voltou
juntou os cacos do cofrinho
e pensou que o mundo era caro
demais.

moedas não compram o mundo.
Dinheiro é só mais uma ilusão.

Desperdiçada

Como água no chuveiro
gotas quentes descendo por um corpo frio.
A quietude de um domingo à tarde
molho de pimenta no pastel de frango
vendido por um cara na feira
que não era chinês.
Arde.
Eu tiro os sapatos e ando pela casa,
esquadrinhando os momentos
os sentimentos
os beijos e as pontas dos dedos.
lixo as unhas...
esqueço o diagrama
desenhado no céu,
renego a pátria.
Não falo nenhum idioma,
e quando a noite vem,
eu me escondo na sombra,
se eu fumasse acenderia um cigarro.
E leio
e choro baixinho.
No próximo domingo será o mesmo.
Minha mãe vai ligar
e dizer que eu deveria fazer mais.
-A vida minha é um desperdício.
Fosse outro,
fosse outra faria melhor.
Mas algumas vidas nascem para ser desperdiçadas.
Eu vim,
e foi por isso
para compensar os excessos
da falta de desperdícios.

domingo, 30 de março de 2014

Muito eu queria, mas é pouco o que eu quero

Muito eu queria ter
do brilho das estrelas
e brilhar um pouquinho
nessa noite escura
um pequeno vaga-lume
na escuridão.

Muito queria eu ser a lua
assim teria como justificar
todas essas crateras
E eu diria: Vejam, eu sou a lua!

Muito queria e ser a primavera
cheia de brisa e de flores
ou o Outono
E ter alguma beleza
Não queria mais chover
a chuva é muito feia
eu queria nevar!

Muito eu queria ter do tato
das rosas
a maciez e o perfume
daria todos os espinhos de defesa
para ser
uma indefesa flor.

Muito eu queria ter
como poeta
nem rimas mais eu tenho.
Como pessoa não tenho nada.

Mas talvez se viramos o quadro
na parede,
e invertemos o angulo das coisas
daquele jeito anormal,
Talvez,
Talvez assim,
eu tenha TUDO.

sexta-feira, 28 de março de 2014

Esqueça as regras

Eles não vão te deixar ser infeliz
eles querem que você exiba um sorriso na cara,
-Então me desenhe.

Eles não vão te deixar quieto
sentado, pensando
ou simplesmente absorto...
-Então me transforme.

Eles não vão te deixar encostado
no muro
às 04 da tarde.
-Me de algo.

Eles vão nos recriminar,
se você levantar minha saia,
e beijar minhas coxas...
-Eles nos culturizaram da maneira errada.

A sociedade me diz que eu devo
seguir
regras.

Que tal se eu seguir as minhas?

terça-feira, 25 de março de 2014

Parede de espelhos

Do outro lado ninguém me espera,
eu disse: se eu tenho de ir, eu vou sozinha
e sozinha passarei por esse caminho
que vocês chamam de vida.

E ali estará o pôr do sol.
e do outro lado pode haver muitas coisas
jarras para colher minhas lágrimas
tijolos de barro em chamas para aquecer minha cama

E um deus tão jovem
que não terá idade
para me  julgar
e não vai também me dar mais tempo.

Do outro lado, minhas costelas
terão sarado e ninguém se assustará
quando despida dos meus sorrisos
eu estiver

Do outro lado um outro país
ou outra gente,
outro eu,
mas daqui é sozinha que eu saio
e ao chegar lá eu sei também
que nada me espera.

Senhor, eu só peço que
o outro lado
não seja
uma parede de espelhos...

Lola

Lola, a senhora do andar de cima
morreu noite passada
Enquanto eu olhava o teto branco
entorpecida na minha habitual loucura
adocicada por um copo de vinho.

Lola morreu, ou matou-se
quem há de saber o que ocorre realmente
entre quatro paredes doentes
e impregnadas de silêncio?

Eu ouvi gemidos baixinhos,
mas não soube dizer se eram dela ou meus
Lola desligou a música clássica.
Lola, a senhora do andar de cima
chorava baixinho e minha porta aberta
trazia suas lágrimas para os meus olhos.

Lola morreu ontem à noite
no silêncio que ninguém ouve
Lola morreu sem dizer adeus.

Hoje pela manhã vi Lola.
Ela me cumprimentou, um bom dia ensaiado.
Não havia luto, cortejo funerário.
Porque Lola morreu dentro de si mesma.

Quanta gente morre assim,
todos os dias?

Então eu lhe disse: meus pêsames.
E dona Lola se foi
carregando dentro de si
um cadáver.

Recado

Ei querida
tua dor te mandou
uns beijinhos
te dedicou umas músicas românticas
Algo sobre destruir seu coração
e desfiar suas meias
ainda nas coxas
tua dor te mandou
um beijo na boca
mandou dizer que
se deliciou
sorvendo sua carne
E na madrugada
te ligou.
Tua dor
estava bêbada
do teu sangue.

On the Road

Há muitos fantasmas por aí
esqueletos esquecidos
na fronteira dos Estados Unidos
Com o México
Há fugitivos
do Oriente Médio.
E há mortos no deserto de Gobi.
Há pessoas bebendo
seu próprio sangue
Há gente morrendo
nesse momento
enquanto escrevo
Eles morrem aos montes
Mas eles ainda estão na estrada
seguindo
porque o destino de quem parte
é chegar
de um jeito
ou de outro.

Tumbleweed

Sozinha, sou como um arbusto
seco que rola com o vento
pelos desertos
Velho Oeste
Cenário grotesco
abandonado
empoeirado
Tudo é cenário
Tudo é ridiculamente Hollywoodiano
E quando as pessoas
se afastam
contam dez passos
duelando pela vida
feito heróis desse cenário
eu continuo rolando
com o vento pelo deserto
como um tumbleweed.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Quarta-feira

Fartei-me em lágrimas
desejei que todas as minhas corressem
por tua face
e mesmo assim
desejei teu sorriso.
Ao fim não quero e não posso
desejar-te qualquer desventura
mas nesta quarta-feira
eu queria dividir minha loucura,
minha tortura
e meu vazio.

Fartei-me em lágrimas,
dormi o sono desses que se afogam em
lágrimas.
Pensei que precisava de um poema
senão ia morrer,
mas você sabe que eu sempre estou à beira da morte.
Não chorei por ti,
não apenas,
Chorei pelos espaços vazios
que eu tinha reservado para ti,
esse tipo de sentimento fraternal
quando se é rompido,
dói demais.
E como sempre eu so sei escrever sobre dor...
Então eu estava mal com u e com l.

E quando fico mal
minhas traças vem me roer
como roem meus livros

Eu não queria ter
te perdido
Culpa minha
sempre minha

Eu só queria apagar
esta quarta feira
em que ridiculamente
chorei
por não ter mais você.

Mas eu penso que é assim
toda dor e fraqueza
você tem que sofrer até o fim
só assim ela deixa de existir.

Você queimou,
mas ainda não posso soprar você da minha lembrança.
Que sabe numa próxima
quarta-feira
 de cinzas...

terça-feira, 18 de março de 2014

Ruínas

Nada me faz ficar
Neste lugar
que já está em ruínas.
E fui eu quem deixou tudo assim.
Se esse mundo seduz alguém,
certamente não sou eu.
Eu conheço tudo por aqui,
todos os movimentos
todas as ruas,
as avenidas
já estive em todos os becos,
Já deixei marcada todas as sarjetas.
Já me dei por aí.
Já me fartei
já me quebrei
já me parti...
volto a mim,
abro os olhos
olho ao redor,
Esse mundo ainda está perfeito
Não outra explicação
Quem está em ruínas sou eu.

Up! Um outro pedaço.

Eu te amei,
suja, infértil e improdutiva
uma rapariga,
de vestido curto,
pelas ruas de Berlim.

Eu te amei
boca borrada
do batom vermelho
que você beijou
e arrancou com fúria da minha boca,

Eu te amei desgraçadamente
Como Deus certamente
amou a serpente
que no jardim do Éden ele colocou

E te amei como Adão
amava Eva
Mas duplamente não resistiu
nem a serpente nem a maçã.

Eu te amei,
como um Leviatã,
ausência e proeminência do poder,
Louco em si mesmo.
Verme do meu amanhã.

Eu te amei,
até te converter nesse
pedaço dentro do meu peito,
É assim,
que dia após dia,
reconquisto meu próprio coração.
E você meu bem,
foi só mais um pedaço.

Eu e meus seres inanimados

Essa vida parece que nem é minha,
Parece bobagem o mesmo discurso, a mesma linha de raciocínio
.
Mas não importa onde eu vá,
eu volto pro mesmo lugar.
É este raciocino que me faz perder o sono a noite.
O que faria essa vida ser para mim?

Parece tão automato.
Eu sento no meu mundo.
E estabeleço uma distancia segura.
Diminuo a velocidade das coisas e deixo tudo passar lentamente,
como quem apenas assiste.

Expectadora.
Não sonhadora, não escritora.
Não poetisa. Não estudante de economia.
Eu sou expectadora.
Eu fico assistindo a vida acontecer
os pássaros voarem.
os prédios se erguerem
os casais se amarem
as crianças correrem
os cachorros crescerem
o mundo mudar.
e permanecer tudo igual.

O que faria essa vida ser para mim?
Uma festa? Um natal?
As comemorações
um cartão postal?
As pessoas estão por aí,
escrevendo nomes próprios
amando-os.
Colocando-os acima de tudo...
Se perpetuando.

É isso?
Não sei, isso ainda parece não me agradar.
Fecho a janela. Deixo a chuva açoitar o vidro. Por que sempre chove tanto?
Aperto John contra o peito,
Roger esquenta minha mão.
E me diz sabiamente que um dia teremos a resposta.

E juntos,
eu e meus seres inanimados
continuamos olhando as gotas de chuva,
pela janela de vidro.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Eu disse o que era

Eles vieram à meia-noite
quando já trôpega de vinho,
eu esbarrei nos meus próprios pés.
Me levaram.
Amarraram minhas mãos
os meus pés,
Puseram mordaça na minha boca,
Mal sabiam eles, que eu jamais iria lutar.
Me puseram numa cama, dessas
de cirurgias
E se aproximaram de mim.
Cheios de lâminas
Cheios de luzes
e aparelhos
e marcadores,
e me tocavam.
-Não é possível que isso seja tão vazio.
Diziam.
Isso era meu peito.
-Não é possivel que não haja coração!
Não acreditaram.
Me prescrutaram
me invadiram.
Me reviraram
do avesso,
me voltaram...
e nada encontraram.
Eu lhes avisei que eu era o vazio.
Me partiram ao meio.
Me doparam.
Me costuraram.
colocaram algo dentro de mim
Então lá pelas tantas da madrugada,
me jogaram de volta a calçada...
senti algo bater no meu peito...
chorei, chorei desse jeito
como quem perde um amor.
Morri no dia seguinte.
Há vazios
que não se preenchem.

A buzina


Vez ou outra,
outra vez,
algo me tira da letargia...
quantos compridos tomei?
Para dor de cabeça ou pro tédio.
-Não sei.

É um barulho de coisas passando.
As coisas passam,
e vão e não ficam,
e se deterioram e são trocadas
por outras coisas
que também não ficam e passam
é um ciclo infinito
Mas elas tem o mesmo barulho
O barulho imprestável de coisas.

Eu caio no meu ostracismo
eu reclamo do meu cataclismo
e adormeço aqui dentro de mim.
Eu canso das lutas,
eu canso de sofrer.

Mas vem outra vez o barulho
e eu acordo de novo nesse mundo.
Sem ter nem porquê.
Nem pra quê.
Eu fico ai
um zumbi sorridente...
Mal sabe essa gente,
que eu tenho um sorriso treinado
na minha cara
pra cada um.

E eu vou caindo, e caindo
e fecho os olhos,
Não é sono, não adormecer...
Eu estou me escondendo
cá dentro de mim

E então vem de novo
o barulho,
que merda!
Eu levanto e fecho a janela.
Que as buzinas dos carros
não atrapalhem mais
o meu alheiamento do mundo.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Verbete anexo do meu existir

Sentir
Verbete anexo do meu existir
O vale a pena de qualquer canção.
Sentir a lua daquela noite
Sentir o sol desta manhã.
Sentir que coisas ficam pra trás
Que mesmo que a gente busque
Aquele fevereiro não volta mais.

Sentir o morder de lábios
O meu prazer.
A pele de mãos que percorrem minhas coxas
Que podem ser as minhas próprias
Ou as tuas
Se a intenção for a mesma.

Sentir o vento beijando o meu pescoço
Numa manhã gelada como está
E o frio abraçando meu corpo...
Assimilando.
Possuindo.
Até que o frio e o meu corpo se tornem
Um só.

Sentir
Absorver pelos sentidos
Sentir de verdade é nunca esquecer
Que quando a noite.
Me abraça e
A solidão não passa
Eu ainda posso me pertencer.
Mas nunca permanecer.

Sentir baby é estar por ai...
De todas as formas
Em todos os abraços
Em todos os lábios.
Em todo sorrir.
Porque se eu me sinto,
eu sinto o mundo,

Da próxima vez não me tenhas medo.
E me deixe te sentir.
.

domingo, 9 de março de 2014

Demora não


Quando acordar me chame
não me deixe dormir demais
eu tenho caído em segredos
silenciosos.

eu tenho dito palavras que não me pertencem
eu tenho iludidos os puros de coração.
Quando vier não espere eu abrir a porta.
Entre com toda a força
que te resta
e me arranque deste lugar.

E insira nas minhas costas
essas asas que juntos estivemos a criar.
E me deixe então voar.
Mas não demore tanto
a acordar.