segunda-feira, 17 de março de 2014

Eu disse o que era

Eles vieram à meia-noite
quando já trôpega de vinho,
eu esbarrei nos meus próprios pés.
Me levaram.
Amarraram minhas mãos
os meus pés,
Puseram mordaça na minha boca,
Mal sabiam eles, que eu jamais iria lutar.
Me puseram numa cama, dessas
de cirurgias
E se aproximaram de mim.
Cheios de lâminas
Cheios de luzes
e aparelhos
e marcadores,
e me tocavam.
-Não é possível que isso seja tão vazio.
Diziam.
Isso era meu peito.
-Não é possivel que não haja coração!
Não acreditaram.
Me prescrutaram
me invadiram.
Me reviraram
do avesso,
me voltaram...
e nada encontraram.
Eu lhes avisei que eu era o vazio.
Me partiram ao meio.
Me doparam.
Me costuraram.
colocaram algo dentro de mim
Então lá pelas tantas da madrugada,
me jogaram de volta a calçada...
senti algo bater no meu peito...
chorei, chorei desse jeito
como quem perde um amor.
Morri no dia seguinte.
Há vazios
que não se preenchem.

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