domingo, 1 de setembro de 2013

As flores do Ipê



Eu passo algum tempo observando os ipês.
As flores caem, estendendo-se como um tapete florido diante de meus pés.
E eu as piso. E quando olho para trás...
Estão todas as flores pisoteadas. Por meus pés.
Às vezes me sinto culpada.
Às vezes não.
Às vezes acho que estão lá para que eu as pisoteei.
Às vezes sofro junto com elas.
Agacho-me.
E choro e me sinto também pisoteada.
Encontro-me estarrecida, diante de meu coração que não bate.
Diante desse meu cinismo entorpecente.
Diante deste meu abismo da alma.
E eles me dizem “te quero”.
E eu não posso querer... e eu não posso.
Entenda que o querer... o querer é o desejo
Daqueles que não possuem.
Eu não posso querer-vos.
São para mim pétalas das flores de ipê.
É triste.
Urge a noite,
Um sussurro que me diz: Cínica.
Passei da hora.
Passei da vida.
Passei dos corpos.
Fui além.
Estive abaixo,
Por baixo...
Em outros braços...
E nada disto mais me alcança.
Estou num patamar...
Abaixo de vós.
Eu passo mais tempo no submundo... do outro lado.
Onde eu posso saltar, e alcançar o solo.
Às vezes eu conheço o chão,
E no meu rosto lágrimas se misturam com barro
E eu sofro, a dor de vós...
E o querer de vós... Me atormenta.
Vosso amor...
Não me serve de nada.
Não me é morada.
Perdoe esta alma pelo cinismo.
E deixa essa enxurrada de um amor
Alardeado.
Esse amor. Afoga o mundo.
Afoga-me.
E para mim...
Para o mundo. São flores.... de ipês
Pisadas ao amanhecer.
Assim.... Toma um trago.
Assim como eu embebeda-se até o amanhecer
E veja o sol nascer
Com os olhos de um bêbado atormentado...
E verás...
Que seu amor,
Estará pisado.
E sim, fui eu quem pisou.
Assim como pisaram no meu.
É só vingança.
É só vingança.
Eu odeio os ipês!

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