Acho que é madrugada
Há chuva de meteoros
O céu brilha e eu choro.
Doem-me os joelhos ralados,
Doe-me porque cai
Apoiei-me nos joelhos
E e agora eles sangram
Mas me arrastei até aqui.
Você conhece o meu desespero
Você conhece o meu dilema
Você tem em suas mãos o meu poema.
Você sabe que este poema
Este poema é um
pedaço de mim
Como se fosse minha carne
Ou o meu seio
De tão pessoal que o é.
E você maldito,
Você o tem consigo.
Devolva-me o poema.
-Grito!
A vizinhança abre as janelas.
Sua família solta suas feras
Monstros que se apiedam de mim.
Que criatura
Atacaria a outra
Com aparência de demônio?
Devolva o poema!
Esperneio.
O corpo de bombeiros
E a polícia chegam.
Isolam-me num cordão
Como se eu fosse perigosa
Eu que já pareci com uma rosa,
Mas eu ainda sou corajosa e grito:
Devolva o meu
poema!!!
Os bombeiros se aproximam
A polícia recrimina
“Quem é você?”
“Eu sou poeta,
E este canalha,
Possui um poema meu.
E eu o quero de volta”.
Você abre a porta...
Com seu olhar covarde,
Mas já é muito tarde,
Joga no ar meu poema.
Picotado, picado,
Em milhões de pedacinhos triturados.
Eu grito!
Eu choro!
E você fecha a porta.
A polícia
Os bombeiros
E a vizinhança
Apieda-se de mim
Algumas jovenzinhas choram tolhidas
E eu de joelhos no chão
Catando os pedacinhos do meu poema.
Vestígios de que um dia possuí coração
Nesse vago espaço
No peito.
Você, você
Sempre me deixa
Em pedaços.
Lindo!
ResponderExcluirLembre de Chico em "Pedaço de mim"
"...oh, pedaço de mim
oh, metade amputada de mim
leva o que há de ti
que a saudade dói latejada
é assim como uma fisgada
no membro que já perdi.."