terça-feira, 13 de agosto de 2013

Devolva-me o poema




Acho que é madrugada
Sim é.
Há chuva de meteoros
O céu brilha e eu choro.
Doem-me os joelhos ralados,
Doe-me porque cai
Apoiei-me nos joelhos
E e agora eles sangram
Mas me arrastei até aqui.
Você conhece o meu desespero
Você conhece o meu dilema
Você tem em suas mãos o meu poema.

Você sabe que este poema
Este poema  é um pedaço de mim
Como se fosse minha carne
Ou o meu seio
De tão pessoal que o é.
E você  maldito,
Você o tem consigo.

Devolva-me o poema.
-Grito!
A vizinhança abre as janelas.
Sua família solta suas feras
Monstros que se apiedam de mim.
Que criatura
Atacaria a outra
Com aparência de demônio?

Devolva o poema!
Esperneio.
O corpo de bombeiros
E a polícia chegam.
Isolam-me num cordão
Como se eu fosse perigosa
Eu que já pareci com uma rosa,
Mas eu ainda sou corajosa e grito:

Devolva  o meu poema!!!
Os bombeiros se aproximam
A polícia recrimina
“Quem é você?”
“Eu sou poeta,
E este canalha,
Possui um poema meu.
E eu o quero de volta”.

Você abre  a porta...
Com seu olhar covarde,
Mas já é muito tarde,
Joga no ar meu poema.
Picotado, picado,
Em milhões de pedacinhos triturados.

Eu grito!
Eu choro!
E você fecha a porta.
A polícia
Os bombeiros
E a vizinhança
Apieda-se de mim
Algumas jovenzinhas choram tolhidas
E eu de joelhos no chão
Catando os pedacinhos do meu poema.

Vestígios de que um dia possuí coração
Nesse vago espaço
No peito.
Você, você
Sempre me deixa
Em pedaços.

Um comentário:

  1. Lindo!

    Lembre de Chico em "Pedaço de mim"

    "...oh, pedaço de mim
    oh, metade amputada de mim
    leva o que há de ti
    que a saudade dói latejada
    é assim como uma fisgada
    no membro que já perdi.."

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