-Isto não é pra você baby.
Ele me limpou dos lábios o batom
vermelho com um lenço branquíssimo que tirou do bolso, e me cobriu com o seu
casaco, puxando para baixo o meu vestido curto, como se pudesse resgatar algum
resquício de dignidade, prendeu meus cabelos em um coque perfeito que nem eu
mesma teria feito melhor. Olhou para os lados.
-Há quanto tempo está aqui,
baby?
-Duas horas.
Ele pegou meus papéis sobre a
mesa, e tirou meus saltos vermelhos.
-Isto não é para você baby.
Isto não combina com você.
A lágrima desceu pelo meu
olhar.
-Charlie. Nada é para mim. Nada combina comigo, é por isso que estou
aqui.
Servi mais um pouco de vinho,
e bebi.
Não era assim tão vulgar, eu
estava num lugar reservado, bebendo meu vinho, escrevendo algumas tolices, talvez alguém aparecesse
para me fazer companhia por uma noite. Mas lá veio o Charles.
-Vem, vamos. Não gosto quando
você se torna essa outra, tão igual a tantas outras. Você não é assim.
-Para o inferno cara. Tu tem as
tuas mulheres. Me deixa sozinha. Vai ficar com alguma delas...
-Para o inferno você. Está em condições
de fazer alguma coisa?
-Sim, beber! E é o que estou
fazendo.
Deslizou os dedos pelo meu
rosto. Eu odeio quando faz. Ele que não é humano. Quer me converter em humana.
Como se pudesse me salvar de alguma coisa.
-Levanta-te... Você me lembra
Betty. Betty morreu assim.
-Não sou Betty. Não sou
ninguém.
-É dramática demais. Pelo amor
de Deus vista o casaco. Baby, baby. Venha comigo.
-Eu não vou Charles. Não vou
para o teu abraço amigo. E não quero ninguém na minha dor.
-Basta. –Elevou um pouco o tom
de voz. Sentou-se e bebeu todo o meu vinho, quase como de um gole.
Sorrio, não consigo distingui-lo
de uma sombra e outra. Mas me sinto chorar.
-Eu te amo Charles. E isso vai
me matar.
(...) Continua ou não.
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