Despertar Sr. Escritor?
Só se fizermos um trato!
Eu disperto do meu sonho.
E tu da tua realidade!
Este é um estado incólume.
Acordar não me fará feliz.
Nem carpir o chão,
Me fará valorizar a camisa
que apenas no corpo eu usei.
Minha camisa talvez valha
muito.
Eu a uso. Para esconder a
miséria de um corpo sonhador.
Os olhos mortais se
assustam. Mas nós os sonhadores,
Trazemos cicatrizes no
corpo. A vida nos açoita noite e dia.
Maldição dessa realidade.
Desespero dos miseráveis ao
meu lado.
Não é um lamento disfarçado
de revolta.
É a revolta disfarçada de
lamento.
E sim senhor Escritor.
Aqui deste lado voam anjos
com uma asa só.
Aqui é tudo miséria,
Não a miséria da fome, nem
a miséria do esbanjador.
Aqui a miséria é ferida na
alma de uma classe: o sonhador.
E aqui a miséria é o
sonho,
A calamidade é querer.
E ter tantos muros a nos
conter.
Aqui o mundo é o complexo
de Quixote.
Aqui as cotovias assobiam
seu canto de dor.
E a fuga, qual mais seria a
fuga? A tua realidade que tudo realiza?!
Não poder talvez seja nossa
miséria, a minha!
E por isso eu sou esta
miserável sonhadora que julgas.
Papel em branco e lápis na
mão.
Eu vou escrever a tua
realidade.
Ah Sr. Escritor,
Não vês tu que os que me
destruíram estão em todo lugar.
Suspeito que também estão à
tua espreita.
A questão é: Tu também te
tornarás um miserável?
Eles vão sugar a tua
certeza.
E te fazer vestir uma
camisa... de alto valor!
Ah caro Escritor,
Se chover, se eu chover...
Haverá enxurrada de sonhos não realizados,
Haverá tempestades de
dor...
Haverá milhares miseráveis
de amor.
Deixa eu nublar e nublar
Não é egoísmo. Não quero
apenas mirar a minha face fria.
É esse espelho emoldurado,
A minha caixa de pandora.
Não toque!
Eles me condenaram, como tu
também o fazes
Deixa-me eu contar o que
vi.
Eu vi amor fraudado! –
Miserável!
Eu vi homens tornarem-se
animais. –Miseráveis.
Eu vi mulheres tornarem-se
vazias. –Miseráveis.
Eu vi construírem a prisão,
Esta prisão de julgamentos.
De risos e escárnios.
Eles me apontaram o dedo,
Me jogaram areia nos olhos
e gritaram.
Tola sonhadora- és uma
miserável.
Eu canto pois é salvação.
Não a minha.
Mas é o sonho,
De que este canto seja a
salvação
De alguém.
As árvores morreram...
A humanidade é assim.
Mata tudo que é vida,
Julga tudo que é felicidade
Encarcera tudo que é
liberdade!
Quer colecionar quadros nas
paredes,
Cadeiras lustrosas e mortas
para sentar.
Não há árvores meu caro
Escritor.
Essa é a realidade que eu não
quero enxergar.
Mas eu sonho. E esta é a
minha miséria
Sonho que minhas tímidas
sementes verdes,
Venham a brotar.
Quem sabe?
Estou completamente
assustada.
Lá fora o mundo agride!
E eu só tenho uma asa para
voar!
Se eu levar minha caixa de
pandora, temo trazer o caos.
Talvez, talvez eu me renda
e disperte,
Não me interessam os
aplausos.
Essa noite eu vou acordar,
Apenas para ver se eu posso
me encontrar,
Verdadeiramente sem camisa.
Extraordinário!
ResponderExcluirVc é incrível!
Parabéns!
Nada, sempre dou crédito a inspiração...
ResponderExcluirOBrigada.