(Para melhor
compreensão recomendo leitura do poema "A volta da Mulher Morena" Vinicius de Moraes)
Minha mãe traga-me
papéis sem linhas,
Canetas pretas e
azuis - de preferência as azuis.
Deixe-me sozinha.
Apenas ligue a
luz.
A confissão que
tenho a fazer é breve.
Minha irmã saia do
quarto, por favor.
Não posso
confessar em tua presença.
É a confissão de
um quase crime cometido em nome do amor.
Pois bem, vou
começar.
É uma confissão amiúde,
Cheia de tristeza
e ciúme.
E ciúme, e ciúme.
Eis que ela se
anunciou na esquina,
Eu sabia ser ela.
A descrição era idêntica.
Era uma menina...
Era uma mulher
efêmera.
Eu sabia que eram
aqueles olhos
Que ao meu poeta
despertava durante a noite, como estrelas.
Eu sabia que eram
aqueles lábios
Que eram o néctar
da vida e ele desejava sorvê-la.
Observei-a seguir
pela rua, braço estendido ao longo do corpo.
Eu sabia que eram
aqueles braços lassos,
Que paralisavam o meu poeta na prisão silenciosa
De um carinho.
Era ela a mulher
morena que seguia na rua,
Que trouxe tosse
má para o seu peito e solidão
Que encurvou seus ombros,
Ela que possui o
teu coração.
E quis atender teu
último pedido.
Eu quis dar morte
cruel à mulher morena.
Confesso,
confesso, quase crime cometido.
Mas não podia
Vinicius matar, assim tão cruelmente,
A musa do teu
poema.
E assim me
acovardei a insignificância
De um quase crime
cometido e, por favor,
Perdoe-me não pude
seguir com essa vingança
De matar aquela
que te matou de amor.