Você sabe que o que liga sua
alma ao corpo são laços? Bom, podem ser cordas, cetins, o que imaginar, mas há
algo que liga seu corpo a alma.
E sabe também que sofrer de
amor não é bem sofrer de amor? Eu tenho o dom de converter qualquer dor,
qualquer tristeza em dor de amor. Sabe, eu assumo, é mais fácil culpar o amor
do que culpar e admitir a loucura, o espírito fraco, a atração inebriante pela
tristeza, pela morte. Então tudo isso é culpa do amor. Estou naquele mesmo bar.
Do início, sozinha. O mesmo vestido curto, o mesmo salto alto vermelho, e estou
desaparecendo. Sabe? Há uma fio imenso, vermelho, que liga minha alma ao meu
corpo. Não sei dizer se o que vejo agora é a alma ou o corpo. É tudo muito
louco. –Garçom, traga mais uma garrafa de vinho. Esta já é a segunda da noite.
Escrevo freneticamente nos papéis
sujos de batom e perfume. Não há companhia. E escrevo essa solidão dominadora.
“Ela me tornou isso.
Uma alma em busca do corpo,
Um corpo em busca da alma.
Sem nunca poderem se encontrar
Nem alma e nem corpo,
Porque há entre eles um imenso muro de Berlim”.
Ouço a voz da minha mãe frenética
dentro da minha cabeça.
-Faça alguma coisa, faça
alguma coisa. Ela pede em rogos desesperados.
Eu ignoro. Não sei o que está
acontecendo. Eu penso em Charles e em seu abandono. Se todos são substituíveis,
porque não consigo substituí-lo?
Vem o garçom.
-Sua garrafa senhora. –Deseja que
eu sirva?
Será que me beijaria de volta
se eu o beijasse?! Beijo-o. Beijo frio,
impessoal, amargo.
-Perdão. Peço.
Nada me basta.
Sinto dor. Mas minha poesia é
regada a dor. O drama. Drama. Empurro a mesa e a garrafa de vinho se espatifa
no chão, os copos, os papeis, o resto de mim, em pedacinhos pelo chão afogados
no vinho, espetados nos cacos de vidro. Choro, suplico, suspiro. Queria que ele voltasse para mim. Alguém
que de verdade nunca foi meu.
Sinto o laço puxado, no meu abdômen
resta a parte rasgada, rompida do laço que ligava meu corpo à minha alma.
E ouço o último lamento de
minha mãe dentro da minha cabeça.
“Pronto filha, acabou”.
Agora vejo Charles. Ele segura
minha mão como se a todo momento estivesse estado ali, e novamente me cobre com
seu casaco.
-Charles, eu te amei tanto...
eu o amei tanto...
-Eu sei Baby...
Ele me ajuda a levantar, e
retira meus sapatos.
-Eu disse baby, isto não é
para você.
- Acabou Charles? Acabou?
-Não baby. Tudo está só
começando.
Dele também pende aquela parte
rompida do laço. Agora somos apenas almas. INSUBSTITUÍVEIS.
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