Dez anos depois...
A senhora arruma livros, papéis e fotografias numa estante. Em
duas fotografias o mesmo rosto. O dela.
A poeta. Lágrimas disfarçadas descem pelo rosto daquela senhora. A garotinha
que se aproxima pergunta:
-Vovó? Está era minha tia?
Como ela morreu?
O rosto na fotografia não tinha
vivacidade, não tinha brilho, talvez... Quem sabe o que é vida? Talvez as
pessoas nasçam com alma, mas nasçam sem vida. Ou seja, sem vivacidade, sem
querer, já nasçam afogados na tristeza.
-Ela... sim, era sua tia. Ela
morreu quando você ainda era bem pequenininha. Entrou em coma após... após
ingerir certa quantidade de um remédio. Ficou quarenta e cinco dias em coma, e
depois de muito sofrimento morreu.
-Ela se suicidou vovó?
Como mãe era inconcebível aceitar
aquela hipótese. Aquilo havia acontecido
sim, mas não foi repentinamente, a dosagem farmacológica havia sido
ministrada durante anos. E culminou quando a poeta fora abandonada em pleno
altar...
-Pequenina, há coisas que só o
tempo pode explicar.
-E esses livros? Vovó? Algum
dia poderei lê-los? Quem é este senhor?
A menina aponta um rosto na
capa de um dos livros.
-Este é Charles Bukowski, o
autor favorito de sua tia.
-Então será o meu também.
A senhora sorri tristemente,
observando o laço pendendo do corpo da menina. O ciclo era interminável.
Morria um poeta. Nascia outro.
Ah... Charles, o amor matou a
todos nós.
Veja como tudo começou:
Prólogo
PARTE I
PARTE II
PARTE III
PARTE IV
PARTE V
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