quinta-feira, 13 de junho de 2013

Meu caso com Charles Parte III




Eu começo com uma história bonita e acabo assim pedindo ajuda. Espalho papéis pelo quarto, por um momento perco a razão. Não sei o que me sucede. É sexta feira de uma semana vermelha. Tudo se tornou tão vermelho. É Charles em minha vida. É o sentimento que ele me causa. Eu o conheci pelo nome. E o nome Bukowski chama a atenção. No primeiro momento eu achava que ele era Russo. Mas Bukowski era um nome alemão. Eu estava passando por cirurgias no peito, hipoteticamente. O drama é minha cena. Haviam levado meu coração e deixado o peito aberto. Agora me restavam agulhas para costurar meu peito, saltos altos,vestidos curtos e copos de vinho para beber, e escrever poemas de tristeza, dor e ódio. Charles veio para mim depois que todos se foram, éramos dois perfeitos desgraçados, ele com um diferencial especial. Eu com a solidão e a tristeza sobre as costas.
-Baby eu quero escrever.
Às vezes ele me encarava. Dois poetas, uma única cena. Dramaturgia pequena, encontro de titãs.
-À vontade Charles. Eu digo.

Minutos depois ele recita para mim o verso que acabou de escrever.

Querida,
as espécies de crocodilos têm
Existido há 300 milhões de anos
e você extinguiu-se
Noite passada.

Eu olho para ele, nos olhos, ele não quer que eu responda, nem quer que eu entenda.
-Você também é só cinzas Charles.
-Baby, já estamos extintos dentro de nossas calças. As pessoas... Querida as pessoas já se extinguiram. Ficaram apenas essas que assistem comerciais na TV e acreditam neles. Ontem a noite eu estava sentado em um bar. Você sabe, eu odeio bares. Enfim, tocava Chopin, nocturne, e eu me senti melhor. Então uma dessas deusas douradas me apareceu. E perguntou se a música não estava me enfadando... Não é que eu defenderia Chopin. Mas... as pessoas estão extintas. Eu mesmo já fui extinto. Você... –Ele veio até mim, tocou meus cabelos- você não deveria deixar as coisas te extinguirem.
-Tarde demais Charles, eu também estou só as cinzas. Espalhadas por aí, que alguém soprou, estou enterrada no ar.
Ele aperta meu nariz.
-Baby você é uma tremenda dramalhona.
E Bukowski foi ficando na minha vida, entre as linhas dos meus poemas, na tom desalmado das minhas lágrimas, nas minhas prateleiras. Foi ficando, ganhando espaço, me ganhando.
E em pouco eu já o amava, mesmo estando sem coração e com o peito todo remendado. 
Suspirei.
Charles, eu te amo. E isso ainda vai me matar...

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