Eu começo com uma história
bonita e acabo assim pedindo ajuda. Espalho papéis pelo quarto, por um momento
perco a razão. Não sei o que me sucede. É sexta feira de uma semana vermelha.
Tudo se tornou tão vermelho. É Charles em minha vida. É o sentimento que ele me
causa. Eu o conheci pelo nome. E o nome Bukowski chama a atenção. No primeiro
momento eu achava que ele era Russo. Mas Bukowski era um nome alemão. Eu estava
passando por cirurgias no peito, hipoteticamente. O drama é minha cena. Haviam
levado meu coração e deixado o peito aberto. Agora me restavam agulhas para
costurar meu peito, saltos altos,vestidos curtos e copos de vinho para beber, e
escrever poemas de tristeza, dor e ódio. Charles veio para mim depois que todos
se foram, éramos dois perfeitos desgraçados, ele com um diferencial especial.
Eu com a solidão e a tristeza sobre as costas.
-Baby eu quero escrever.
Às vezes ele me encarava. Dois
poetas, uma única cena. Dramaturgia pequena, encontro de titãs.
-À vontade Charles. Eu digo.
Minutos depois ele recita para
mim o verso que acabou de escrever.
Querida,
as espécies de
crocodilos têm
Existido há 300 milhões de anos
e você
extinguiu-se
Noite passada.
Eu olho para ele, nos olhos,
ele não quer que eu responda, nem quer que eu entenda.
-Você também é só cinzas
Charles.
-Baby, já estamos extintos
dentro de nossas calças. As pessoas... Querida as pessoas já se extinguiram.
Ficaram apenas essas que assistem comerciais na TV e acreditam neles. Ontem a
noite eu estava sentado em um bar. Você sabe, eu odeio bares. Enfim, tocava
Chopin, nocturne, e eu me senti melhor. Então uma dessas deusas douradas me
apareceu. E perguntou se a música não estava me enfadando... Não é que eu
defenderia Chopin. Mas... as pessoas estão extintas. Eu mesmo já fui extinto.
Você... –Ele veio até mim, tocou meus cabelos- você não deveria deixar as
coisas te extinguirem.
-Tarde demais Charles, eu
também estou só as cinzas. Espalhadas por aí, que alguém soprou, estou
enterrada no ar.
Ele aperta meu nariz.
-Baby você é uma tremenda
dramalhona.
E Bukowski foi ficando na
minha vida, entre as linhas dos meus poemas, na tom desalmado das minhas
lágrimas, nas minhas prateleiras. Foi ficando, ganhando espaço, me ganhando.
E em pouco eu já o amava,
mesmo estando sem coração e com o peito todo remendado.
Suspirei.
Charles, eu te amo. E isso
ainda vai me matar...
Você ainda vai morrer... mas vai ser lindo morrer desse/nesse amor...
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